Os
pais precisam confiar na instituição de ensino onde os filhos vão
iniciar sua vida escolar para transmitir segurança e tranquilidade
aos pequenos
Visita a casa da pequena Maria Eduarda |
Quem nunca
perdeu o sono pensando em como será a adaptação dos filhos na
escola, principalmente nos primeiros 3 anos de vida? O assunto é
recorrente entre mães, sejam nas situações em que precisam deixar
os filhos na escola para voltar da licença-maternidade, ou então
quando os pais querem que os filhos passem a conviver e interagir com
outras crianças da mesma idade. Por mais decididos que os pais
estejam com relação a essa escolha, um misto de sentimentos como
medo, culpa e ansiedade toma conta e pode complicar ainda mais este
momento.
O novo gera
insegurança em qualquer idade, mas na educação infantil esse
processo é ainda mais intenso. As crianças se veem em um ambiente
coletivo com regras diferentes daquelas praticadas em casa, são
estimuladas a participar de atividades incomuns e passam a conviver
com adultos e crianças que até então não faziam parte de seu
convívio. Para diminuir a ansiedade e os medos que essas mudanças
podem trazer é muito importante um processo de adaptação
bem-feito. É fundamental que os pais confiem na escola para que,
assim, possam transmitir tranquilidade aos filhos.
De acordo
com o artigo ‘O processo de adaptação da criança na creche: seu
desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor’, o processo de
adaptação de uma criança é determinado por diversos fatores e
depende da participação de pais, educadores e instituição, como
agentes facilitadores. “A entrada da criança na creche precisa ser
pensada com muito cuidado pelos educadores, pois se configura como um
momento de separação de seus pais ou de alguém que represente o
papel social familiar. Se a adaptação for feita de maneira
adequada, a permanência da criança na instituição de educação
infantil tende a ser tranquila, o que colabora também para o seu
crescimento afetivo, psicomotor, cognitivo e social”, conclui.
Segundo a
psicopedagoga e mestre em distúrbios do desenvolvimento, Karen
Kaufmann Sacchetto,
para que
uma adaptação escolar ocorra da melhor maneira possível, precisa
ser bem conduzida, minimizando sofrimentos desnecessários. “Quando
nos preparamos para as situações, estas acabam sendo menos
dolorosas do que se apresentavam. Quanto menor o filho, mais difícil
parece a separação e maior a ansiedade dos pais. O bebê não fala
e isso provoca nos pais um vazio, pois não têm o registro que
gostariam de como foi aquele dia do ponto de vista do bebê.”,
argumenta.
Diretora da
Escola Paraíso da Criança, de São José do Inhacorá (RS), a
especialista em gestão e organização escolar, Sandra Reckziegel,
explica a maneira que considera ideal para fazer a primeira adaptação
na escola. “Os pais precisam preparar a criança, deixá-la pouco
tempo na escola no primeiro dia de aula e, gradualmente, aumentar
este tempo a cada dia. Normalmente em até duas semanas a criança
está totalmente adaptada e já fica no período integral”,
explica. Este aumento gradual da permanência da criança no ambiente
escolar é uma das formas mais adotadas para adaptação nas escolas
infantis.
Outra
maneira de adaptação escolar tem sido feita na escola Atuação, em
Curitiba (PR), há oito anos. A diretora e psicopedagoga, Esther
Cristina Pereira, explica que o método funciona da seguinte forma:
alguns dias antes do início das aulas, cada aluno recebe em sua casa
a visita da futura professora e da coordenadora pedagógica. Neste
encontro, a educadora leva um boneco ou boneca devidamente
uniformizado, que representa o aluno, conversa com os pais, tira
fotos com a criança e a família. Essas imagens são impressas e
inseridas em um mural que fica exposto na sala durante os primeiros
dias de aula. “A foto serve como uma referência emocional para o
aluno, que vai olhar para a imagem e se lembrar daquele momento em
sua casa, o que exclui a ideia de total estranhamento ao chegar na
escola”, afirma. Segundo Esther, o encontro com a criança e a
família ajuda muito na adaptação dos pais também, já que eles
aproveitam para tirar dúvidas e criar um vínculo com a escola.
De acordo
com Esther, este modelo de adaptação escolar é comum na Finlândia.
“Conhecemos em uma viagem que fizemos até lá e resolvemos
implantar na nossa escola. O resultado tem sido adaptação mais
leve, pais mais tranquilos e as crianças se sentem mais seguras
porque não têm o impacto de chegar e encontrar uma professora
totalmente desconhecida.”, revela.
Para
Carolina Biscaia da Silva, mãe de Lucas, de 7 anos e Daniel, de 2, o
método de adaptação da escola Atuação foi fundamental para a
escolha da instituição há 5 anos. “Quando fui conhecer a escola
fiquei sabendo como era feita a adaptação com a visita da
professora em casa e isso me deu mais segurança.”, recorda.
Segundo ela, este momento de integração cria um vínculo maior
entre escola, família e criança. Quando iniciou as aulas, Lucas
que, na época tinha 2 anos, já ficou no período integral desde o
primeiro dia, sem choro e sem sofrimento. Agora é a vez do pequeno
Daniel iniciar na escola. De acordo com Carolina, mesmo sendo mais
apegado a ela, o primeiro dia na escola foi tranquilo e a expectativa
é de que continue assim.
Contando
com os resultados positivos deste processo, Marcela Gulak, mãe de
Maria Fernanda, de 1 ano e 10 meses, está fazendo a adaptação da
filha na
escola.
De acordo com ela, o fato de receber a professora em casa e ela poder
interagir com a filha no ambiente em que está acostumada é muito
importante. “No dia em que fui entregar o material na escola, levei
minha filha junto e encontramos a professora. Quando ela viu saiu
correndo para abraçar.”, comemora. Para Marcela esta estratégia
de adaptação torna família e escola mais próximas.
Conforme o
artigo ‘O ingresso e adaptação de bebês e crianças pequenas à
creche: alguns aspectos críticos’, não existe muito consenso
sobre o próprio conceito de adaptação a creche e, menos ainda
sobre os fatores que estão associados a este processo e como os
bebês enfrentam as situações estressantes deste período. O estudo
diz que cada criança precisa de um período de tempo diferente para
se adaptar, sendo importante respeitar o ritmo da própria criança e
não impor um período pré-determinado para a adaptação.
De acordo
com a psicopedagoga Karen, muitos pais têm um sentimento de culpa
por não poderem estar o tempo que julgam ideal com seu filho. “Aqui
vale a velha máxima ‘O que importa é a qualidade e não a
quantidade do tempo que passam juntos’. Não há porque se sentir
assim. As crianças crescem, amadurecem e precisam de novas
experiências com outras da mesma idade.” Segundo ela, por mais
longo e cheio de lágrimas, que um período de adaptação possa ser,
não traumatiza. “Todos superam essas ‘dores’ dos primeiros
dias na escola e, logo, eles farão parte de uma lembrança
distante.”, defende.
Independente
do método de adaptação oferecido pela escola é importante ter
claro que trata-se de um processo complexo e gradual que depende da
participação dos pais, filhos e instituição de ensino. Não
existe um método 100% eficiente a prova de choro, ansiedade e medos
porquê cada pessoa encara este momento de forma diferente. O
importante é que os pais confiem na escola e que ambos respeitem o
tempo que a criança precisa para se sentir totalmente confortável
para que possa explorar e aproveitar todas as possibilidades que este
momento tem a oferecer.
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